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O Brasil registrou seu primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no dia 15 de maio, em um aviário de Montenegro, no Rio Grande do Sul.

Até o momento, seis investigações estão em andamento no país para verificar se existem novos focos de gripe aviária. Desde o primeiro de Montenegro, quatro casos já foram confirmados este ano.

Reprodução/ SRN

A partir do anúncio oficial, 24 países vetaram a importação de frango brasileiro, como parte de medidas sanitárias. Apesar do cuidado, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reforça que o consumo de carne de frango e ovos é seguro tanto para a população brasileira, quanto para o exterior.

Para esclarecer isso, a TV Cultura conversou com o Prof. Dr. Jansen de Araujo, que coordena o Laboratório de Pesquisa em vírus emergentes no Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB - USP). Jansen também assessorou o Mapa no monitoramento do vírus da Influenza Aviária no país entre 2006 e 2013.

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O professor reitera que apesar de humanos poderem ser contaminados pela gripe aviária, isso só é possível através do contato direto com as secreções ou fezes de uma ave infectada. Além disso, não existem evidências de uma pessoa poder contaminar outra, porque o vírus não é adaptado o suficiente às células humanas.

“Eu faço uma comparação com o vírus da Covid-19, que nos deixou muito traumatizados. Qualquer espirro, eu mandava milhões de partículas para outra pessoa, que nós temos os receptores na garganta e no nariz. O vírus da gripe aviária não possui essa adaptação, não tem um receptor nessa área. Então, ele não se adaptou ainda às células humanas; essa transmissão de humano para humano não está estabelecida. E até dentro dos animais que foram identificados, foram todos os animais que tiveram contato com as aves”, explica.

Também é esclarecido que para prevenir uma possível infecção por influenza aviária, quem entra no aviário ou no ambiente com um foco suspeito ou confirmado, deve fazê-lo de máscara e equipamento de proteção individual (EPI).

O coordenador comenta que treinou, em parceria com o Mapa e o Ministério da Saúde, mais de 700 veterinários ao redor do Brasil sobre a maneira correta e preventiva de coletar material das aves para análise clínica.

“Quando começou a pipocar isso, há 20 anos, quando morria uma ave dentro de um aviário, os próprios veterinários não queriam ir lá. A gente treinou esse pessoal: orientou o uso de EPIs, como era o vírus, como era a transmissão. Essa ‘novidade’ de pegar a secreção com cotonete e uso de EPIs, já era preconizada por conta dessa gripe aviária. Então, quando a gente viu isso na televisão, aquelas roupas brancas, respirador facial, óculos de proteção, a gente tinha que explicar para essas pessoas que não adiantava usar luva se entrasse sem máscara no aviário”, diz.

Araujo adiciona que caso o tratador esteja usando o equipamento adequado dentro de um aviário infectado, dificilmente vai contrair a doença. Ele também esclarece que após a coleta de material, toda matéria orgânica do ambiente deve ser incinerada para destruir o vírus.

De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento em humanos para a gripe aviária, em casos suspeitos, prováveis ou confirmados, deve ser iniciado preferencialmente nas primeiras 48 horas após o início dos sintomas. O processo é recomendado por um período mínimo de cinco dias, mas pode ser prolongado até que haja melhora clínica.

É indicada a prescrição do medicamento antiviral, fosfato de oseltamivir, que pode reduzir a duração dos sintomas e, principalmente, o agravamento da doença. O antiviral é disponibilizado pelo ministério em doses de 30mg, 45mg e 75mg. Mais informações sobre a prescrição do fosfato de oseltamivir podem ser consultadas no Guia de Manejo e Tratamento de Influenza 2023.

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Outra preocupação recorrente da população é se a doença é transmissível através do consumo de carne de frango e ovos. A recomendação em relação a esses alimentos é a mesma para prevenir outras infecções, como a Salmonella: não devem ser ingeridos crus. Além disso, o vírus dificilmente é encontrado dentro do ovo em si, mas sim na casca.

“Se a galinha estiver infectada, quando ela bota o ovo às vezes sai manchado de fezes e carregando o vírus por fora. Mas normalmente, quando o aviário está infectado, nem chega a botar ovo porque é muito rápido: 24 horas, 48, 72, já está morto”, explica Araujo.

O pesquisador recomenda que pessoas que têm aves de subsistência fiquem atentas aos sinais clínicos da influenza nas aves, como secreção nasal e ocular e incoordenação motora. Nesses casos, o serviço de Defesa Agropecuária do Mapa deve ser contatado para confirmar se a ave está com a síndrome nervosa respiratória ou não.

“Qualquer ave infectada tem que ser destruída – e não adianta só as doentes, tem que eliminar todas. O vírus é muito sensível, qualquer calor, cozimento, fritura, assando a altas temperaturas, destrói o vírus”, explica.

Ele adiciona que nenhum frango ou ovo que está no mercado está infectado, já que com qualquer problema a vigilância sanitária embarga os produtos. “Se tá no mercado, pode consumir tranquilamente, porque não vai ter partícula viral lá, até onde a gente sabe. O frango que chega no mercado já está certificado, não tem perigo nenhum. Nem ovo, nem frango.”

Apesar da segurança quanto à alimentação de frango e ovo, a suspensão da compra desses produtos brasileiros fazem parte de medidas sanitárias de cada país.

No Roda Viva da última segunda-feira (26), o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, reitera que regiões como os Estados Unidos convivem com o vírus há mais tempo que o Brasil e não deixaram de exportar seus frangos. Ano ado, inclusive, o país ou o ano todo com a doença em algum de seus estados produtores, mas apenas segregou a área e seguiu com as vendas. Ele também destaca a tentativa de negociar com outras nações a flexibilização do embargo.

“Não tem como transmitir isso em um pacote; é um excesso de precaução que por vezes está até disfarçando um protecionismo comercial. O México, por exemplo, Canadá, a República Dominicana, estão importando dos Estados Unidos hoje, e mandaram parar do Brasil, não tem lógica. Eu acho que isso precisa reformular o pensamento global, nós estamos jogando dinheiro fora dos países e quem vai pagar essa conta são os consumidores dos países importadores”, diz.

Assista ao Roda Viva com Ricardo Santin:

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O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou na última quarta-feira (28) em audiência na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, que a pasta comercial já começou as negociações com importadoras para flexibilizar a restrição ao frango brasileiro.

“Neste momento, começamos o diálogo para diminuir as restrições às exportações do frango brasileiro. Quando completarmos o vazio sanitário de 28 dias, o foco total será na liberação dos embargos ao frango", disse o ministro.

O vazio sanitário que o Brasil se encontra desde o dia 22 de maio representa um período protocolar que caso não haja o registro de novos focos de influenza aviária nesse intervalo, o país pode se autodeclarar livre da doença.

Fávaro adiciona que há uma “revisão constante dos protocolos sanitários para buscar a regionalização”, ou seja, para que a restrição da compra de carne de frango fique apenas ao município de Montenegro, ou a um raio de 10 km de onde o foco foi detectado.

De acordo com a última atualização do Mapa sobre os países que suspenderam as importações de frango brasileiro, a situação atual está da seguinte maneira:

Suspensão total das exportações de carne de aves do Brasil:

  • China;
  • União Europeia;
  • México;
  • Iraque;
  • Coreia do Sul;
  • Chile;
  • Filipinas;
  • África do Sul;
  • Jordânia;
  • Peru;
  • Canadá;
  • República Dominicana;
  • Uruguai;
  • Malásia;
  • Argentina;
  • Timor-Leste;
  • Marrocos;
  • Bolívia;
  • Sri Lanka;
  • Paquistão;
  • Albânia;
  • Índia;
  • Macedônia do Norte;
  • Kuwait.

Suspensão restrita ao estado do Rio Grande do Sul:

  • Arábia Saudita;
  • Turquia;
  • Reino Unido;
  • Bahrein;
  • Cuba;
  • Montenegro;
  • Cazaquistão;
  • Bósnia e Herzegovina;
  • Tajiquistão;
  • Ucrânia;
  • Rússia;
  • Bielorrússia;
  • Armênia;
  • Quirguistão;
  • Angola;
  • Namíbia.

Suspensão limitada ao município de Montenegro (RS):

  • Emirados Árabes Unidos;
  • Japão.

O diagnóstico conclusivo de influenza aviária mais recente foi registrado ainda em Montenegro, na última quarta-feira (28), em um joão-de-barro de vida livre. Esse foco já foi encerrado, ou seja, o vírus já foi eliminado daquele local, após um período de vigilância e controle.

Os dois focos em andamento no país ocorrem nos municípios de Mateus Leme (MG) e em Sapucaia do Sul (RS), registrados ambos em cisnes negros.

É possível monitorar a situação da gripe aviária no Brasil no de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves (SRN), disponibilizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

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