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Como lembrar os múltiplos talentos de Anibal Augusto Sardinha no momento em que completam-se setenta anos que ele nos deixou, no dia 3 de maio de 1955? Simples: convocando três mestres atuais em seus ofícios – o violonista Romero Lubambo, o saxofonista e flautista Mauro Senise e o pianista Cristóvão Bastos. Eles lançam “Lembrando Garoto” pelo selo Biscoito Fino. Um refinado tributo ao músico que ganhou, ainda no início da adolescência, nos anos 1920,o apelido que o imortalizou, “Garoto”. Pudera. Àquela altura ele já dominava todo e qualquer instrumento de cordas que lhe caísse nas mãos.
Resumindo: ele dominava um verdadeiro arsenal de cordas, listado por Roberto Muggiati no texto do encarte: violão, banjo, cavaquinho, violão tenor, bandolim, violino, guitarra portuguesa, guitarra havaiana, violoncelo, contrabaixo, violão requinto, rajão, bandola, e uma criação sua, o bandolim-cello”.
É impossível sintetizar sua importância na música brasileira. Vou tentar listar porque ele é um marco fundamental na história da nossa música. Em apenas 39 anos de vida, foi o primeiro a tocar em sala de concerto com orquestra regida e arranjada por Radamés Gnatalli, seu amigo pessoal, parceiro e irador devoto. Baden Powell e João Gilberto também o reverenciaram. Com mais de duas centenas de composições, também foi decisivo na construção de repertório. Brilhou nos Estados Unidos, ao lado de outro gênio do violão hoje meio esquecido por aqui, Laurindo de Almeida. Ambos integraram o Bando da Lua que acompanhou Carmen Miranda em Hollywood no finalzinho dos anos 30, mais precisamente em outubro de 1939, e parte dos anos 1940.
O menino filho de imigrantes portugueses, nascido em São Paulo, assistiu Django Reinhardt, o violonista cigano belga mítico, ao lado do violinista Stephane Grappelli, na década de 30. Trouxe de lá uma pegada e um balanço irresistíveis; dos EUA, incorporou as blue notes. E assim por diante.
Você conhece e ama de paixão “Gente Humilde” e ‘Duas Contas”? Pois o CD desta semana vai descortinar diante de seus ouvidos releituras iráveis de outras sete gemas menos conhecidas de Garoto. Como três choros antológicos: “Jorge do Fusa”, “Infernal” e ‘Tristezas de um violão” também conhecida como “Choro Triste no. 1”. Quanto a este último, Muggiati indica que Villa-Lobos o ia sem pensar.
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