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O fenômeno é recorrente. A cada ano redescobrem-se e se promovem primeiras gravações mundiais de obras de compositoras. É tão frequente este gesto que com certeza daqui a meio século alguém irá reescrever a história da música sem atentar para questões de gênero ou raça. Tomara.

O exemplo mais recente é o de Fernande Decruck. Ela nasceu em Gaillac, na França, em 1896. Começou os estudos de piano aos 8 anos; estudou no Conservatório de Toulouse, e a partir de 1918, aos 20 anos, estudou órgão e piano no Conservatório de Paris, onde ganhou prêmios em harmonia, fuga, contraponto e piano.

Entre seus alunos – ela foi professora assistente de harmonia e a partir de 1926 de órgão --, estava Olivier Messiaen, não por acaso também um mestre no órgão. No final de 1928, tocou em várias cidades norte-americanas numa turnê como organista. Além das composições para órgão, seu ofício, ela também escreveu bastante para saxofone e contrabaixo, instrumentos tocados por seu marido Maurice. O casal morou em Nova York por vários anos e ele tocou contrabaixo e sax na Filarmônica de Nova York.

Em 1937, ela retornou à França só com os três filhos. Deu aulas em Toulouse novamente. São de seu período final – ela morreu em 1954, como professora no Conservatório de Fontainebleau - suas obras mais conhecidas, como um concerto para harpa e a Sonata em dó sustenido para saxofone ou viola e orquestra.

Ao todo, quatro obras em première mundial: o concerto para cello, de 1932, e “Les Clochers de Vienne”, os sinos de Viena, suíte de valsas, de 1935. E, da década seguinte, a citada sonata para sax e orquestra, aqui com a viola, de 1943, e “Les Trianons, suíte para cravo e orquestra”, de 1946. Todas em primeira gravação mundial.

As performances são de primeira qualidade. Na suíte Les Trianons, por exemplo, o cravista é Mahan Esfahani. Os demais solistas são o violoncelista Jeremy Crosmer e Mitsuru Kubo à viola. Matthew Aubin rege a Orquestra Sinfônica de Jackson.